Abril/2010
Resenha - O Desatino da rapaziada, de Humberto Werneck
Uma viagem no tempo. Assim pode-se tentar definir o efeito da obra do jornalista e escritor Humberto Werneck sobre o leitor. O Desatino da Rapaziada envereda-se em uma Belo Horizonte de poetas apaixonados pela escrita, jovens amantes de literatura, e abarca gerações diversas de escritores que se desenvolveram ao redor de jornais e revistas.
O autor evoca nomes como Djalma Andrade, Afonso Pena Júnior, Honório Armond, Milton Amado, Fernando Sabino, Rosário Fusco, Otto Lara Resende e Guilhermino César e relembra cenários de inegável importância para o desenvolvimento das “mentes literárias” que fizeram história e que serviram de inspiração para a mutação da imprensa mineira, num cenário em que jornais nasciam e morriam prematuramente.
Humberto Werneck nos leva a uma década vivida com paixão pelos então iniciantes poetas e jornalistas Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, Pedro Nava, entre outros, em uma Belo Horizonte que conhecera outrora os Cavaleiros do Luar e os Jardineiros do Ideal, e que na década de vinte se deparou com o Grupo do Estrela, que tinha como figura central os jovens Drummond, Emílio Moura, Milton Campos e Alberto Campos, os “rapazes desatinados” que “brincavam de modernismo”, e que nos arredores da rua da Bahia traçavam os novos caminhos do jornalismo em Belo Horizonte.
Nem só de letras vive o homem, e não foi diferente no caso de célebres poetas mineiros, como nos conta Werneck. Brincadeiras adolescentes, como o incêndio iniciado por Drummond e Pedro Nava na casa das moças Vivacqua, com o intuito de criar uma situação que tornaria possível ver as moças de camisola, ou o lendário alpinismo urbano de Drummond no Viaduto Santa Tereza, feito que motivou gerações, que copiaram o ato décadas depois, são alguns dos mitos trazidos à tona no livro que mostram a face malandra e o frescor adolescente que pairava sobre as redações dos jornais belo-horizontinos.
Das transformações do jornal Diário de Minas ao nascimento do Estado de Minas, de transformações políticas à deboches da mocidade jornalista, O Desatino da Rapaziada é obra rica em referências literárias e jornalísticas, uma crônica sobre gerações de “desatinados”, portanto essencial à todo bom jornalista e amante da literatura mineiro.
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